26/06/09

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A minha mãe é a minha mãe.
Prontos, está tudo dito.
Foi ela que me pôs neste mundo e teve que aguentar as minhas cagadas e as cagadas do meu velho, que já se foi.
O meu pai era um bacano mas não gostava muito de bulir. Quer dizer, ele tinha muito azar, estava sempre a ser despedido ou a ter problemas com os patrões, mas era uma mecânico do catano.
Quando eu tirei a carta ainda me fartei de andar num Ford Capri que ele tinha afinado e só quando me estampei na Calçada do Combro é que o chasso foi para a sucata.
Gostava do seu copito e isso é que o matou. Nunca mais conseguiu trabalhar e acabou como engraxador. Depois, a minha velha não lhe perdoava e estava sempre a atazaná-lo, o relógio não aguentou e olha, já lá está no jardim das tabuletas.
Foi a D.Alzira é que teve que se fazer à vida para termos o que comer.
Dou-lhe muito valor, por isso não posso pô-la num lar, nem eu sou dessas coisas, familia é familia e mais nada.
A Mena tem que se aguentar à bronca, a velha daqui só sai para o Alto de S.João e espero que daqui a muitas luas.
É por estas cenas todas todas é que a Mena não pode ler este blogue.
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21/06/09

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- Então o blogue?
A Mena anda doidinha para ver o que tenho aqui escrito! Mas nem pensar ela passar aqui as bugas! Havía de ser bonito! Então as minhas cenas com o Fredo... Ía dar molho, certinho direitinho.
Mas não me larga a labita, sempre a perguntar se tenho visitas, se já pus fotografias. Eu até gostava de pôr aqui umas fotos à maneira que o Mané, que sabe bué destas coisas, já mas mostrou (agora não me lembro como é que se chama a coisa) e até sacou umas quantas de umas damas podre de boas, mas estão a ver o que quero dizer, não é?! Era a mesma coisa que arranjar corda para me enforcar.
A Mena é muito boa rapariga mas quando lhe chega a mostarda ao nariz é o fim do mundo em cuecas. Parte tudo e vai buscar coisas do século passado que eu já nem me lembro.
Verdade, verdadinha é que eu gramo dela assim.
Eu não digo nada mas é uma burra de trabalho, bule, bule, bule sem parar! Ele é as limpezas lá nas casas das senhoras, é aqui em casa sempre tudo num brinquinho, o meu fato-macaco está sempre mais impec do que qualquer outro, não falta nada.
Às vezes é um bocado chato as discussões entre ela e a minha mãe, e depois mete-me no meio daquelas saladas e pede para eu escolher, aí afino à brava.
Mas o que é que ela queria? Que eu metesse a velha num asilo?
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16/06/09

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Hão-de querer saber porque é que me chamam Ditongo e porque este blogue é para assinalar a minha entrada nos entas, eu vou contar.
Quando a minha mãe ficou grávida andava a ler um romance da Corin Tellado e havía lá um marmelo na história que se chamava Eduardo António. Ela gramava à brava do nome e como nasci homem fiquei logo baptizado.
Ainda chavalo a minha mãe chamava-me Didi, mas o meu pai disse que Didi era nome de panilhas e que filho dele não passava vergonhas e vaí daí, aplicou-me o Ditongo.
E Ditongo sou e assim hei-de morrer.
Na escola vieram-me com umas cenas da gramática, uma coisa de sons, mas eu não quis saber. Aliás da escola nunca gostei muito. Só quando fazíamos umas jogas de futebol ao Sábado de manhã, isso é que eu gramava, porque de resto era tudo uma seca que não serve para nada.
Claro que eu não digo isto ao meu puto! Tenho cá para mim que há-de ir para a universidade e há-de ser doutor. E até agora... o miúdo tem mesmo jeito para a coisa.
E prontos, é esta a história do meu nome.
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11/06/09

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A gaita toda foi no dia seguinte.
Ainda estava todo mamado das loirinhas do Chico e por mais que a Mena e a minha mãe me chamassem não me conseguía levantar.
Pedi à Mena para ligar para a fábrica e dizer ao Pires, o encarregado, que estava doente e não podía ir. Ela fartou-se de bramar mas lá telefonou.
A verdade é que aqueles gajos não merecem nada. Ainda estou à espera para receber a outra metade do subsidio de Natal, que só me pagaram meio mês e já me vieram com um paleio de fazer umas horitas, mas querem pagar como se fosse dentro do horário normal.
Até fui à procura dos gajos do sindicato que andam sempre por lá, mas não encontrei ninguém. Também me saíram cá uns sornas! Qualquer dia desarrisco-me!
É sempre assim: Quando precisamos deles nunca estão, só querem é poleiro, é tudo politica.
Se eu mandasse eles havíam de ver!
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06/06/09

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A Mena com a ajuda da malta prepararam-me uma festa surpresa no restaurante do Chico. Uma coisa à maneira, com muita febra e até houve camarão.
Foi giro. A noite estava do baril e viemos todos cá para fora. O Chico ofereceu as loirinhas bem geladas e depois acabou por se juntar a nós. Fartámo-nos de cantar, quem puxou pelo pessoal foi o Carlitos, que é o mais velho do grupo e sabe aquelas músicas todas do Roberto Carlos e até alguns fados do Toni de Matos.
Mas a cena aqueceu mesmo, foi quando mandei a Mena para casa com o puto.
O Fredo, que anda a comer uma gaja de Alvalade, fez-nos um relato de encher o papinho e a converseta durou até às quinhentas. No fim até me disse, que se eu quisesse, me levava a conhecê-la e que a dama até parecía virada para gostar de uma ranchada.
- Já pensaste? Nós os dois? E a gaja?
- Eh pá!
- Quando quiseres Ditongo! Os amigos é para estas coisas!
O Fredo sempre teve as mulheres que quis, tem uma lábia do caraças! Nunca se casou, deve ser por isso. A Mena não gosta muito que eu saia com ele, mas tem que se aguentar.
Quem veste as calças cá em casa sou eu.
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01/06/09

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Hoje faço 40 biscas.
Até parece mal, logo no dia da criança.
Embora me digam que tenho cara de puto e que não aparento nada ter a idade que tenho.
Eu não sinto que tenha estas ampolas todas mas o sacana do B.I. não mente. E a minha mãezinha, que esteve quase dois dias para me parir também não. Diz que lhe comecei a dar ralações logo ali, naquele dia. E que nunca mais parei até hoje.
Foi por isso que o Fredo me disse que eu tinha que fazer qualquer coisa memorável, dessas que se dizem, plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro.
Bom, o filho já tenho, a árvore não sei onde é que havía de plantá-la e o livro não tenho pachorra.
Quem me deu a idéia foi o Mané. Sempre foi o intelectual do grupo.
- Faz um blogue, pá!
- Um blogue?
Pronto. Foi assim que apareci aqui. A Mena, que é a minha mulher, é que escolheu as cores e as florecas. Diz que fica distinto, chique.
Está bem. Pode ser.
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